terça-feira, 17 de março de 2015

O Puerpério: Baby Blues?

Puerpério /s.m/ pu·er·pé·ri·o (Priberam)
substantivo masculino
1. Dores e ânsias da mulher puérpera.
2. Período do parto

Puérpera / / pu·ér·pe·ra 
(latim puerpera, -ae)
adjetivo feminino e substantivo feminino
Diz-se de ou mulher que deu à luz muito recentemente. = PARTURIENTE

Nesse link há uma explicação fantástica sobre o puerpério, e recomendo que todas as pessoas leiam para conhecer um pouco mais desse período avassalador da nossa vida. Mas quero falar aqui sobre como esse período tem acontecido e transformado nossas vidas.
Esse fragmento do texto da Laura tem muito a ver com a minha forma de ver o puerpério: "o parto é sobre tudo um corte, uma quebra, uma brecha, uma abertura forçada, igual à erupção do vulcão que geme desde as entranhas e que ao lançar suas partes profundas destroem necessariamente a aparente solidez, criando uma estrutura renovada."
Foi assim que me senti após parir, eu sabia que seria uma quebra, morte e vida. Mas ao mesmo tempo, é muito individual para cada mulher, não acredito que uma mulher consiga passar imune ao nascimento de um filho, seja ele natural ou cirúrgico. Então, após o nascimento de Helena estava eu, quebrada, partida, renascida e vazia. Eu sabia que aquele amor de que falam poderia não nascer com meu bebê, mas nasceu. No momento em que tomei Helena em minhas mãos, ainda coberta de vérnix me apaixonei. O toque, o calor, o cheiro, o brilho nos olhos, essa sensação é indescritível. E junto, pra mim, era a sensação de: Acabou, eu pari, eu e ela trabalhamos juntas lindamente.
Passadas algumas horas eu permanecia no êxtase do nascimento, do parto, ocitocina a mil. No dia seguinte, quando recebi alta, eu estava sozinha no hospital e esperei a tarde toda até que alguém pudesse me buscar, e chorei muito. Eu me sentia triste por estar no hospital, pensava em todos os "e se" do parto, olhava para Helena e dizia a ela tudo isso, eu sempre soube que deveria explicar a ela o que estava sentindo e assim foi desde o primeiro dia. 
Quando chegamos em casa, eu finalmente descansei, o leite desceu e começou a saga que vocês já conhecem pela amamentação. Foram dias e noites longas e difíceis em que eu seguia conectada com minhas doulas lindas, que sempre me atendiam e me orientavam (Tenha uma Doula!). Uma noite enquanto eu tentava fazer com que Helena pegasse o peito enquanto ela chorava o Ricardo falou "ela é preguiçosa, o peito está aí e ela não mama", essa frase bateu em mim como um soco (já ouviu falar de simbiose?), eu sentia que ele estava me xingando e não a ela. E isso se confirmava por dias e dias. Eu chorava e ela não se acalmava mais, eu saía do quarto, saía de casa, caminhava e aquela tristeza, aquela sensação de estar fazendo tudo errado ia se fortalecendo. Junto a isso eu pensava em tudo o que não tinha sido como eu esperava no nascimento da Helena, me sentia em falta com ela. Eu a amava, estava finalmente com a minha filha saudável nos braços mas tinha uma vontade imensa de sair correndo, de me acabar chorando.
"Estima-se que mais de 80% das mulheres que dão à luz sofram do chamado “baby blues”. Trata-se de um conjunto de sintomas que aparecem geralmente entre o 3º e o 10º dia do pós-parto e que consistem em alterações de humor, com tristeza ou irritabilidade, e insegurança perante a nova responsabilidade de cuidar do bebé." 
Eu sinceramente acredito que quase todas as mulheres se sintam inseguras e instáveis após o parto, com um filho nos braços que chora, descobrindo-se mães, reencontrando-se no mundo, no seu dia a dia. Eu me sentia extremamente sozinha mesmo estando acompanhada, me sentia nadando constantemente contra a correnteza.
Lendo Laura Gutman, percebi que todos esses sentimentos fazem parte do puerpério e decidi realmente mergulhar de cabeça, desvendar sombras que surgiam dia após dia. Nosso relacionamento passou por uma grande crise, nos tornamos dois solitários dividindo um teto, tivemos que sentar e rever tudo o que estava acontecendo, eu precisei me desfazer de muita bagagem que ainda vinha daquela Tamires que se foi no dia que a mãe da Helena nasceu.
Coincidentemente foram 50 dias "nublados" para mim, ao contrário da maioria das mulheres, o anticoncepcional me deixou mais ativa e bem humorada, porém uma certeza que eu tinha era de que não voltaria a tomar hormônios. Usei apenas uma cartela, e decidi me manter firme e feliz com meus hormônios pós gestacionais naturais.
A maternidade pode ser um momento extremamente espiritual e de um mergulho profundo em nós mesmas, ou apenas uma novidade colorida para as redes sociais. Adentrar o limbo, morrer, renascer, renovar é uma questão de escolha, eu escolhi viver intensamente e vivo as consequências das minhas escolhas. Para mim, tem sido um constante redescobrir-se, um intenso repensar. Acredito que o puerpério ainda não acabou, ainda há o que viver aqui nesse limbo, mas o pior com certeza já passou. E hoje vejo que foi lindo, obscuro, cheio de dúvidas e medos mas lindo. É a nossa história!



6 comentários:

  1. Nossa, eu tenho muito medo de passar por isso. Hoje ainda estando gravida me pego pensando e preocupada com medo de tudo que está por vim, chorooo e choro mais ainda por estar chorando e fazendo Liz sentir isso. Pior ainda quando a barriga fica tensa, me sinto a pior mãe do mundo. fico imaginando a carinha dela e choroo ainda mais porque ela não merece sentir minhas angustias. Ser mãe não é fácil, sempre soube, mas viver isso de fato é complicado mesmo. Força na peruca rs.

    Beijos

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    1. Não tenha medo, é a via inevitável, é o luto após o parto, afinal uma parte de nós se vai. Parto é morte e vida!
      Chore e converse muito com sua Liz, sobre o que você sente, como você se sente. Sim, ela sente tudo, mas isso não significa que você a esteja causando mal, significa que vocês são companheiras e parceiras. Unam-se! É mágico!
      Beijinhos

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  2. Conheci seu cantinho hoje... adorei o post... eu já ouvi bastante as mamães falando sobre isso.. e fico pensando em como vou reagir após o nascimento do meu filhote tbm...

    http://agoraseremostres.blogspot.com.br/

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  3. Lindo texto!!!
    Amei!!!
    Beijos


    www.maisque6.blogspot.com.br

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  4. Tami, os baby blues foram vividos por mim tb! Eu fiquei muuuuito assustada com essa erupção de sentimentos contraditórios...mas, passa! Ainda bem!! Eu só fui Laura Gutman quando Dan tinha 2 anos e então tudo ficou bem esclarecido...eu gosto da ideia que ela passa da necessidade de uma rede de mulheres que sustentem umas às outras porque, como sabemos, é um período cavernoso! Os tempos modernos não permites que essa rede seja tão fácil, mas seria o ideal! Aforei o post!! Bjks!

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