sábado, 30 de maio de 2015

Apego e Desapego

Sempre acreditei na Criação com Apego e Disciplina Positiva, mesmo antes de saber que ela existia como teoria, tinha verdades concretas que para mim faziam muito sentido. Nunca pensei em deixar um bebê chorando inconsolável, ou obrigar uma criança a seguir convenções sociais, ou mesmo agir com violência. Acredito no nascimento respeitoso, na amamentação exclusiva até o sexto mês e prolongada até onde o binômio mãe-bebê sentir-se bem, no respeito a criança como ser que está ao meu lado e não abaixo de mim.
Até aqui tenho seguido de acordo com os princípios que sempre prezei, mas eu não sou uma mãe apegada. Explico melhor, quando eu estava grávida eu sempre dizia que não me importaria que Helena fosse uma criança "dada", daquelas que vão com qualquer um, não me importaria se ela aceitasse todos os colos e ficasse bem com várias pessoas. Muitos me diziam que quando ela nascesse isso iria mudar, mas não. Intensificou. Exceto pelo fato de que Helena não come e não aceita beber o leite ordenhado fora da teta, fico feliz em saber que eu posso passar algumas horas fora de casa sem sofrer ou causar sofrimento a ela. Muitas pessoas dizem que ao cuidar de uma puérpera é importante ajudar em todo o resto para que a mãe possa dar total atenção ao bebê, mas desde que Helena nasceu eu amo quando alguém chega e ela ganha um colo mais tranquilo e amoroso, enquanto eu tomo um banho longo, descanso meus braços e converso com calma com outros adultos. 
Viajamos pela primeira vez quando Helena tinha 2 meses, só nós duas, 2h de viagem de ônibus até a casa da minha irmã. Lá ela desfilou entre o colo da avó, da tia e dos primos e eu descansei tranquila. Viajamos novamente ao completar 3 meses, para Porto Alegre, 6hs de viagem e ela se mostrou uma ótima parceira, dormiu tranquilamente onde estivesse, ficava sozinha brincando, e recebia colo de tias, bisavós, primas e amigas. Na viagem de volta pegamos uma tranqueira e nós duas estávamos cansadas, com calor. Duas desconhecidas se ofereceram a ficar um pouco com ela no colo, eu permiti, ela se divertiu, relaxou e eu pude descansar para então dar toda minha atenção novamente a ela. 
Um mês depois, conversando com a Kika (doula) ela me perguntou se eu saía sem Helena, e conversamos sobre a importância de eu começar a retomar pequenas atividades solo. Essa conversa foi maravilhosa e até hoje falo sobre isso com minhas amigas mães e gestantes, é preciso um passo de cada vez em direção a nós mesmas, a nos reencontrar. Comecei então a fazer zumba 2x por semana, era 1h30 que eu ficava fora e meu pensamento não ficava em casa, ele voava, flutuava. Eu conseguia desconectar, e isso muitas vezes me fez sentir culpada. Mas então eu pensava em como eu conseguia voltar pra casa disposta e tranquila, mesmo depois de 1h pulando e dançando sem parar, eu tinha um pique pra brincar e ninar Helena, e mesmo que ela demorasse a dormir à noite eu conseguia acompanhá-la. Nessa época vivemos o salto de desenvolvimento dos 4 meses, quando Helena passou 4 semanas acordando de hora em hora durante a noite.
Quando Helena completou 5 meses decidi voltar a trabalhar, ordenhava o leite, congelava, e o pai oferecia à ela. Eu passava 8hs longe, eu me sentia bem saindo de casa, conversando com adultos, mas Helena e o pai não se adaptaram. Ela estava bem, dormia, brincava mas não tomava o leite (até mamadeira eu tentei). Pensamos em adiantar a Introdução Alimentar, chegamos a fazer algumas tentativas frustradas, mas eu sabia que ela não estava pronta e sabia também dos males de uma IA precoce. Melhor oferecer Leite Artificial do que introduzir sólidos antes do tempo. Mas o problema não era o meu leite, era que ela não queria "mamar" fora do peito. E depois de 21 dias de trabalho, decidi parar, não estava funcionando para nós, não naquele momento. 
Eu decidi escrever esse post porque nesse exato momento, Helena está com os dindos enquanto eu assisto uma palestra, pertinho de casa. Depois posso descansar um pouco e pegá-la mais disposta e mais leve para que sigamos nós duas. 
Eu aprendi nesse caminho com a Kika que para dar, precisamos ter. Eu não poderia me doar 100% para minha filha, porque aí não sobraria nada para multiplicar e continuar doando, é preciso guardar um pouco e recarregar. A gestação e o parto são momentos lindos, sublimes, mas depois disso resta pouco de nós e o cansaço do dia a dia vai nos engolindo. Além disso essa rede social materna nos coloca essa ideia de que precisamos nos dedicar 100% a maternidade e deixar de viver, mas isso não é verdade. Tempo ocioso é preciso, produzir é preciso. Sabe aquela história de primeiro colocar a máscara de oxigênio em si mesmo, para então colocar na pessoa ao seu lado mesmo que ela esteja desacordada? A maternidade é assim, só podemos ajudar nossos filhos a respirar após estarmos munidas, inteiras, e com a nossa própria máscara. Só ensina amor próprio quem consegue amar a si mesmo em meio ao caos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário!