quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

DESABAFO

Estou aqui agora me remoendo por dentro.
Do outro lado da divisória, tem uma grávida de 37 semanas. Ela vai fazer cesárea porque é pequena, porque o bebê é grande, porque ela não quer parir entre outras coisas. Ela tem uma data marcada, mas quer fazer essa cirurgia logo porque não aguenta mais estar grávida. Ela acredita que já pode fazer uma cesárea porque o bebê está pronto, ela acredita que pode escolher o momento do seu bebê.
E eu me pergunto: quem sou eu para julgar essa mulher? Eu não sou mãe, eu nunca estive grávida, o que eu posso dizer a ela? Eu sei que ela não vai me perguntar, ela não concorda com o que eu penso, com o que as pesquisas dizem.
Enviei uma mensagem para o meu marido, partilhando minha angústia. Primeiro ele também ficou triste e se perguntou o quanto uma pessoa assim, que planeja uma gravidez e opta por uma cirurgia dessas com 37 semanas realmente ama ou se sacrificaria por esse filho. Ele tem uma filha, e afirmou que se fosse mulher dele, ele não concordaria. Me senti feliz e amparada. Porque mesmo sem ler tudo o que eu leio, ele está se rendendo à minha escolha de respeito ao meu corpo e ao tempo do nosso futuro bebê.
Tive mais uma vez a certeza de que ele é o melhor pai que eu poderia escolher para uma criança. Especialmente quando tentando me acalmar ele disse que o que eu poderia fazer é orar para que apesar das escolhas dela, tudo corresse bem (considerando ser possível uma cesárea eletiva “correr bem”). O que nesse caso significa orar por essa pequena que está vindo, ela será mais forte que sua mãe ao vir ao mundo.
Decidi pesquisar sobre os riscos específicos de uma cesárea eletiva, e encontrei um post da Dra. Melania sobre a opção de parto, em que ela fala que não seria coerente ser a favor do aborto, mas contra a escolha da mulher de conhecendo todos os riscos, optar por uma cesárea. Bem, essa mulher, está ciente dos riscos, mas acredita que seja terrorismo de quem é contra a cesárea (aquele terrorismo que nós conhecemos bem, só que ao contrário).
Minha militância não é por ela, minha pesquisa não é por ela, meu ativismo não é por ela. Minhas orações são por sua filha e pela vida e saúde de ambas. Mas quando pesquiso, e me dedico a divulgar informações sobre as desneCesareas, a violência obstétrica, as vantagens de um parto natural, tenho como objetivo alcançar outras mulheres. Quero alcançar aquela que não sabe, que não tem informação, que não conhece. Não me interessa sua classe social, pois se eu parar para pensar não tenho o valor para pagar o parto que quero nesse momento, e muitas outras nunca terão. Mas eu quero e vou fazer o que puder para que essa possibilidade seja direito de todas.
Como diz a Dra. Melania, não precisamos discutir sobre quem faz cesárea eletiva. Essas já tem seu direito de escolha garantido. Precisamos discutir sobre as tantas outras que não tem acesso a informação e são coagidas por médicos cesaristas e mitos absurdos.  

4 comentários:

  1. É mesmo tão difícil ver outras pessoas insistindo em colocar o seu bem-estar acima do dos seus bebês, né? Minha irmã mesmo vai fazer uma cesariana e não consegui fazê-la mudar de ideia. Pelo menos ela vai esperar o bebê querer vir ao mundo! Mas é muito triste. E as pessoas ao redor acham que estamos loucas por pensar assim. Eu sigo adquirindo conhecimento e caminhando rumo ao meu futuro parto normal humanizado. Até lá, muita pesquisa e empoderamento! Beijos!

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    1. Eu ouço cada coisa em alguns grupos que tenho até medo, ou começo a ficar muito nervosa.
      Mas fico feliz quando encontro alguém que não sabia nada, e que por eu falar ou compartilhar alguma coisa, vem me perguntar e acaba procurando os grupos de apoio.
      Beijinhos

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  2. Tamires, a Che Guevara maternal...rs
    Sobre todas as coisas, acredito que devem prevalecer a saúde da mãe e bebê e só depois disso fazer a opção entre PN e cesárea, mas também acho que a mais interessada é mãe, que passará consciente de todo processo. Exatamente como seu marido, deixei a minha esposa decidir e apoiei sua decisão. Isso é fundamental.

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    1. Léo,
      Obrigada pela visita! Concordo 100% com você! E por isso acredito que quanto mais cedo começarmos a nos informar melhor. Agradeço por ter tido tempo de pesquisar e conhecido pessoas tão bacanas pela blogosfera. No fim, nosso instinto sabe o que fazer.
      Vocês, maridos, são uns fofos mesmo! rsrsrs

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