terça-feira, 9 de junho de 2015

Batizado e brincos: porque não?

Aqui venho eu querendo criar polêmica. Eu infelizmente não consegui alimentar o blog de forma linear e ordenada, mas acredito que esse (além do diário escrito que tento manter), seja um registro do que eu penso hoje e porque tomei essas decisões. Acredito que eu possa voltar aqui repetidas vezes e repensá-las e até mesmo esclarecer à minha filha o motivo de tê-las tomado.
Então vamos aos esclarecimentos. Fui criada em uma família católica, batizada, fiz primeira comunhão e crisma, fui catequista, participei do CLJ por 4 anos e abandonei tudo por causa de um namorado, afinal namoros não combinam com religiões onde tudo é pecado. Nessa época, eu já questionava algumas coisas das quais, lendo a bíblia eu discordava, mas tudo era mistério da fé e nada poderia ser questionado. Depois de alguns anos sem participar de nenhuma igreja, conheci a igreja Universal, da qual participei por um ano, e deixei de participar por ser algo que não se encaixava em minhas ideologias. Aprendi muito nessas igrejas e parte do que sou hoje devo aos dias que passei lá dentro, saí sem mágoas e com o coração limpo.
Mas desde essa época eu tinha algo definido: se tivesse filhos eles não seriam batizados. Simplesmente porque não existe base bíblica para esse ato, um bebê não pode declarar sua fé, além disso eu acredito no poder das palavras, não quero me comprometer com uma fé na qual não vou criar minha filha (você sabia que são feitas promessas no batismo?). Que tipo de pessoa estarei ensinando Helena a ser se em seus primeiros dias de vida fiz promessas falsas em nome de uma convenção social?
Nesse ponto partimos para o pai, que não é batizado e nunca entrou em uma igreja católica na vida.
Esclarecido até aqui, vamos aos brincos.
Sei que há toda uma onda e várias pessoas comentando esse assunto. Mas a verdade é que, assim como o batismo, não furar as orelhas foi uma decisão que eu também já tinha tomado. Simplesmente porque ninguém fura orelha de meninos, certo? Partindo desse princípio, é a primeira violência que se sofre, em nome de uma suposta estética apenas pelo fato de ter nascido com vagina ao invés de pênis. Eu tenho as orelhas furadas, uso pouquíssimo brinco porque tenho reação a qualquer metal, tenho um problema de cicatrização e no geral é sempre difícil pra mim o processo, tentei colocar um piercing e foi um desastre, o pai da Helena também não tem nenhum furo, o padrinho dela tem 4 e a madrinha tem dois. No dia em que ela quiser, eu estarei ao lado dela, procurarei uma ótima profissional que já conheço e faremos juntas, simples assim. Ela é um bebê, é linda sem nenhum adereço e eu não me incomodo quando perguntam "qual é o nome dele?", apenas sorrio e respondo: Helena
Apesar de afirmar Helena como "minha filha" não posso acreditar que ela me pertença e eu mande e desmande de seu corpo, me vejo como uma guardiã, alguém que ela escolheu para tomar conta de seu corpo enquanto ela mesma não pode manifestar suas vontades e desejos. Até lá, ela será um bebê.

sábado, 30 de maio de 2015

Apego e Desapego

Sempre acreditei na Criação com Apego e Disciplina Positiva, mesmo antes de saber que ela existia como teoria, tinha verdades concretas que para mim faziam muito sentido. Nunca pensei em deixar um bebê chorando inconsolável, ou obrigar uma criança a seguir convenções sociais, ou mesmo agir com violência. Acredito no nascimento respeitoso, na amamentação exclusiva até o sexto mês e prolongada até onde o binômio mãe-bebê sentir-se bem, no respeito a criança como ser que está ao meu lado e não abaixo de mim.
Até aqui tenho seguido de acordo com os princípios que sempre prezei, mas eu não sou uma mãe apegada. Explico melhor, quando eu estava grávida eu sempre dizia que não me importaria que Helena fosse uma criança "dada", daquelas que vão com qualquer um, não me importaria se ela aceitasse todos os colos e ficasse bem com várias pessoas. Muitos me diziam que quando ela nascesse isso iria mudar, mas não. Intensificou. Exceto pelo fato de que Helena não come e não aceita beber o leite ordenhado fora da teta, fico feliz em saber que eu posso passar algumas horas fora de casa sem sofrer ou causar sofrimento a ela. Muitas pessoas dizem que ao cuidar de uma puérpera é importante ajudar em todo o resto para que a mãe possa dar total atenção ao bebê, mas desde que Helena nasceu eu amo quando alguém chega e ela ganha um colo mais tranquilo e amoroso, enquanto eu tomo um banho longo, descanso meus braços e converso com calma com outros adultos. 
Viajamos pela primeira vez quando Helena tinha 2 meses, só nós duas, 2h de viagem de ônibus até a casa da minha irmã. Lá ela desfilou entre o colo da avó, da tia e dos primos e eu descansei tranquila. Viajamos novamente ao completar 3 meses, para Porto Alegre, 6hs de viagem e ela se mostrou uma ótima parceira, dormiu tranquilamente onde estivesse, ficava sozinha brincando, e recebia colo de tias, bisavós, primas e amigas. Na viagem de volta pegamos uma tranqueira e nós duas estávamos cansadas, com calor. Duas desconhecidas se ofereceram a ficar um pouco com ela no colo, eu permiti, ela se divertiu, relaxou e eu pude descansar para então dar toda minha atenção novamente a ela. 
Um mês depois, conversando com a Kika (doula) ela me perguntou se eu saía sem Helena, e conversamos sobre a importância de eu começar a retomar pequenas atividades solo. Essa conversa foi maravilhosa e até hoje falo sobre isso com minhas amigas mães e gestantes, é preciso um passo de cada vez em direção a nós mesmas, a nos reencontrar. Comecei então a fazer zumba 2x por semana, era 1h30 que eu ficava fora e meu pensamento não ficava em casa, ele voava, flutuava. Eu conseguia desconectar, e isso muitas vezes me fez sentir culpada. Mas então eu pensava em como eu conseguia voltar pra casa disposta e tranquila, mesmo depois de 1h pulando e dançando sem parar, eu tinha um pique pra brincar e ninar Helena, e mesmo que ela demorasse a dormir à noite eu conseguia acompanhá-la. Nessa época vivemos o salto de desenvolvimento dos 4 meses, quando Helena passou 4 semanas acordando de hora em hora durante a noite.
Quando Helena completou 5 meses decidi voltar a trabalhar, ordenhava o leite, congelava, e o pai oferecia à ela. Eu passava 8hs longe, eu me sentia bem saindo de casa, conversando com adultos, mas Helena e o pai não se adaptaram. Ela estava bem, dormia, brincava mas não tomava o leite (até mamadeira eu tentei). Pensamos em adiantar a Introdução Alimentar, chegamos a fazer algumas tentativas frustradas, mas eu sabia que ela não estava pronta e sabia também dos males de uma IA precoce. Melhor oferecer Leite Artificial do que introduzir sólidos antes do tempo. Mas o problema não era o meu leite, era que ela não queria "mamar" fora do peito. E depois de 21 dias de trabalho, decidi parar, não estava funcionando para nós, não naquele momento. 
Eu decidi escrever esse post porque nesse exato momento, Helena está com os dindos enquanto eu assisto uma palestra, pertinho de casa. Depois posso descansar um pouco e pegá-la mais disposta e mais leve para que sigamos nós duas. 
Eu aprendi nesse caminho com a Kika que para dar, precisamos ter. Eu não poderia me doar 100% para minha filha, porque aí não sobraria nada para multiplicar e continuar doando, é preciso guardar um pouco e recarregar. A gestação e o parto são momentos lindos, sublimes, mas depois disso resta pouco de nós e o cansaço do dia a dia vai nos engolindo. Além disso essa rede social materna nos coloca essa ideia de que precisamos nos dedicar 100% a maternidade e deixar de viver, mas isso não é verdade. Tempo ocioso é preciso, produzir é preciso. Sabe aquela história de primeiro colocar a máscara de oxigênio em si mesmo, para então colocar na pessoa ao seu lado mesmo que ela esteja desacordada? A maternidade é assim, só podemos ajudar nossos filhos a respirar após estarmos munidas, inteiras, e com a nossa própria máscara. Só ensina amor próprio quem consegue amar a si mesmo em meio ao caos.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Planos para o Novo Ano e o Papai

Tenho rascunhos aqui que comecei há meses e ficam meio sem conexão. Fico tentando lembrar o que eu queria ter escrito na época e hoje eles tem um significado completamente diferente. Antes de Helena nascer já tínhamos algum planejamento para esse ano, afinal nos mudamos no ano passado, mas como eu estava grávida, ficamos meio inertes e deixamos a coisa rolar, a vida melhorar.
E assim foi, as coisas foram indo cada uma para o seu lugar, os dias foram ficando mais leves, o fim do ano se aproximou e começamos a planejar. E quando se tem um bebê e a possibilidade de estar em casa o tempo todo com ela, os planos se dividem entre razão e emoção, entre as necessidades da mãe, do pai e do bebê. Planejamos que eu ficaria com a Helena até que ela completasse um ano, para começarmos a pensar em creche, mas quando o Ricardo mudou o turno de trabalho para a noite, conversamos que seria possível eu retornar ao trabalho antes, assim ele ficaria com ela em um período do dia para que eu pudesse trabalhar.
Eu trabalho fora e estudo desde os 16 anos, sempre gostei de trabalhar. Quando pensava em ter filhos, imaginava parando por pelo menos dois anos para me dedicar 100% a essa fase tão importante da vida do bebê, mas nem sempre a realidade atende aos nossos sonhos. Na metade da gestação, quando saímos de Porto Alegre eu deixei pra trás faculdade e trabalho, e isso foi muito pesado para mim, emocionalmente. 
O nascimento de Helena me abriu às mais diversas experimentações e tentativas. Tentei recomeçar a faculdade mas ainda não consegui, retornei ao mercado de trabalho em período parcial mas não nos adaptamos (durante 21 dias eu me senti bem saindo de casa, mas Helena não aceitava o leite ordenhado e o marido estava ficando tenso com a rotina de trabalho). Ainda estou trabalhando em algo em que eu possa conciliar o tempo com Helena, sem prejudicar a família. Retomamos a decisão de não colocá-la na creche, mas sempre cientes de que qualquer decisão pode ser revista e repensada em qualquer tempo.
Hoje, finalmente estamos mais tranquilos para pensar no futuro e nas múltiplas configurações de trabalho que o mundo nos proporciona. Hoje eu sei que escolhi um parceiro que sempre estará ao meu lado, pronto pra o que der e vier. No próximo post vou falar mais sobre como tem sido a paternidade ativa aqui em casa.



quarta-feira, 27 de maio de 2015

Notícias

Mais de dois meses sem notícias e eu ainda volto aqui.
E tanta coisa aconteceu, e tanto já mudou e os rascunhos já não fazem o menor sentido. E nem leitores eu devo ter.
Mas eu ainda espero que esse blog esteja aqui como um registro, para que Helena saiba o quanto foi desejada, esperada e querida.
Já não me recordo das particularidades de cada mês, dos primeiros saltos de desenvolvimento, do baby blues (ainda bem que postei sobre ele), das dificuldades. E começo a entender porque com o tempo a maternidade se torna tão doce, e os relatos de parto tão belos.
Nesses meses que se passaram eu tentei voltar a trabalhar, desisti, nos mudamos, passamos por uma crise de relacionamento, pensei em jogar o bebê pela janela uma dúzia de vezes, pensei em sair correndo também, escrevi e idealizei alguns projetos, desisti de outros, sonhei com chupetas e mamadeiras em muitas noites, fiz muita cara de alface, começamos a IA, criei o instagram do blog (@pequenoprevisto), uma página no face e estamos trabalhando em um layout personalizado.
Então espero que os próximos dias, semanas e meses sejam de produção e finalização de muita coisa por aqui, espero colocar as postagens em dia e atualizar sobre tudo o que Helena nos trouxe e vem trazendo.
Vem comigo?

terça-feira, 17 de março de 2015

O Puerpério: Baby Blues?

Puerpério /s.m/ pu·er·pé·ri·o (Priberam)
substantivo masculino
1. Dores e ânsias da mulher puérpera.
2. Período do parto

Puérpera / / pu·ér·pe·ra 
(latim puerpera, -ae)
adjetivo feminino e substantivo feminino
Diz-se de ou mulher que deu à luz muito recentemente. = PARTURIENTE

Nesse link há uma explicação fantástica sobre o puerpério, e recomendo que todas as pessoas leiam para conhecer um pouco mais desse período avassalador da nossa vida. Mas quero falar aqui sobre como esse período tem acontecido e transformado nossas vidas.
Esse fragmento do texto da Laura tem muito a ver com a minha forma de ver o puerpério: "o parto é sobre tudo um corte, uma quebra, uma brecha, uma abertura forçada, igual à erupção do vulcão que geme desde as entranhas e que ao lançar suas partes profundas destroem necessariamente a aparente solidez, criando uma estrutura renovada."
Foi assim que me senti após parir, eu sabia que seria uma quebra, morte e vida. Mas ao mesmo tempo, é muito individual para cada mulher, não acredito que uma mulher consiga passar imune ao nascimento de um filho, seja ele natural ou cirúrgico. Então, após o nascimento de Helena estava eu, quebrada, partida, renascida e vazia. Eu sabia que aquele amor de que falam poderia não nascer com meu bebê, mas nasceu. No momento em que tomei Helena em minhas mãos, ainda coberta de vérnix me apaixonei. O toque, o calor, o cheiro, o brilho nos olhos, essa sensação é indescritível. E junto, pra mim, era a sensação de: Acabou, eu pari, eu e ela trabalhamos juntas lindamente.
Passadas algumas horas eu permanecia no êxtase do nascimento, do parto, ocitocina a mil. No dia seguinte, quando recebi alta, eu estava sozinha no hospital e esperei a tarde toda até que alguém pudesse me buscar, e chorei muito. Eu me sentia triste por estar no hospital, pensava em todos os "e se" do parto, olhava para Helena e dizia a ela tudo isso, eu sempre soube que deveria explicar a ela o que estava sentindo e assim foi desde o primeiro dia. 
Quando chegamos em casa, eu finalmente descansei, o leite desceu e começou a saga que vocês já conhecem pela amamentação. Foram dias e noites longas e difíceis em que eu seguia conectada com minhas doulas lindas, que sempre me atendiam e me orientavam (Tenha uma Doula!). Uma noite enquanto eu tentava fazer com que Helena pegasse o peito enquanto ela chorava o Ricardo falou "ela é preguiçosa, o peito está aí e ela não mama", essa frase bateu em mim como um soco (já ouviu falar de simbiose?), eu sentia que ele estava me xingando e não a ela. E isso se confirmava por dias e dias. Eu chorava e ela não se acalmava mais, eu saía do quarto, saía de casa, caminhava e aquela tristeza, aquela sensação de estar fazendo tudo errado ia se fortalecendo. Junto a isso eu pensava em tudo o que não tinha sido como eu esperava no nascimento da Helena, me sentia em falta com ela. Eu a amava, estava finalmente com a minha filha saudável nos braços mas tinha uma vontade imensa de sair correndo, de me acabar chorando.
"Estima-se que mais de 80% das mulheres que dão à luz sofram do chamado “baby blues”. Trata-se de um conjunto de sintomas que aparecem geralmente entre o 3º e o 10º dia do pós-parto e que consistem em alterações de humor, com tristeza ou irritabilidade, e insegurança perante a nova responsabilidade de cuidar do bebé." 
Eu sinceramente acredito que quase todas as mulheres se sintam inseguras e instáveis após o parto, com um filho nos braços que chora, descobrindo-se mães, reencontrando-se no mundo, no seu dia a dia. Eu me sentia extremamente sozinha mesmo estando acompanhada, me sentia nadando constantemente contra a correnteza.
Lendo Laura Gutman, percebi que todos esses sentimentos fazem parte do puerpério e decidi realmente mergulhar de cabeça, desvendar sombras que surgiam dia após dia. Nosso relacionamento passou por uma grande crise, nos tornamos dois solitários dividindo um teto, tivemos que sentar e rever tudo o que estava acontecendo, eu precisei me desfazer de muita bagagem que ainda vinha daquela Tamires que se foi no dia que a mãe da Helena nasceu.
Coincidentemente foram 50 dias "nublados" para mim, ao contrário da maioria das mulheres, o anticoncepcional me deixou mais ativa e bem humorada, porém uma certeza que eu tinha era de que não voltaria a tomar hormônios. Usei apenas uma cartela, e decidi me manter firme e feliz com meus hormônios pós gestacionais naturais.
A maternidade pode ser um momento extremamente espiritual e de um mergulho profundo em nós mesmas, ou apenas uma novidade colorida para as redes sociais. Adentrar o limbo, morrer, renascer, renovar é uma questão de escolha, eu escolhi viver intensamente e vivo as consequências das minhas escolhas. Para mim, tem sido um constante redescobrir-se, um intenso repensar. Acredito que o puerpério ainda não acabou, ainda há o que viver aqui nesse limbo, mas o pior com certeza já passou. E hoje vejo que foi lindo, obscuro, cheio de dúvidas e medos mas lindo. É a nossa história!